Se diz do pecado não apenas o ato, pensamento ou palavra realizada contra a Lei do Amor Divino, mas também o estado humano de certa privação das muitas graças e bens que Deus tem para nos dar. Ora, o pecado que carregamos desde a origem, em Adão, não foi desejado ou construído por nossas ações, mas somente o pecado atual e individual, o qual exige atuação livre, direta e consciente em sua realização. O pecado original, por si só, não traz como consequência a condenação eterna. Por isso, a Igreja crê que as crianças não batizadas, mas ainda no estado de inocência, não se condenam1, porque não podem distinguir entre certo ou errado, mal ou Bem. Somos todos culpados por causa da natureza de Adão, que carregamos. Mas nem todos os culpados merecem ser responsabilizados pela culpa que trazem, senão, apenas aqueles que não a confessam, nem se incomodam com ela, não buscando a boa consciência para dela ser livrar, e não se constrangem em assumi-la na execução dos atos culposos que dela provém, visando algum interesse próprio. Todo castigo justo deve ser na proporção da responsabilidade de quem comete o delito. Embora carreguemos a culpa do gênero humano em nossa natureza por causa do ato do primeiro pai da humanidade, não nos foi dada oportunidade de assumi-la ou rejeitá-la até que nascêssemos, porque não estávamos no Paraíso com Adão e Eva, senão, apenas enquanto uma possibilidade existencial, no que diz a Escritura: ‘OS PAIS NÃO SERÃO CASTIGADOS PELOS FILHOS, NEM OS FILHOS PELOS PAIS. CADA UM SERÁ CASTIGADO PELO SEU PRÓPRIO PECADO.’ (Deuteronômio 24,16) Ora, estar privados de certos bens espirituais nesta vida, como a felicidade plena e a existência eterna, já é uma pena por si só, razão porque nenhuma outra nos será cobrada em função do pecado original que carregamos.
1 CATECISMO B.2.13 § 1261 Quanto às crianças mortas sem Batismo, a Igreja só pode confiá-las à misericórdia de Deus, como o faz no rito das exéquias por elas. Com efeito, a grande misericórdia de Deus, "que quer que todos os homens se salvem" (1Tm 2,4), e a ternura de Jesus para com as crianças, que o levou a dizer: "Deixai as crianças virem a mim, não as impeçais" (Mc 10,14), nos permitem esperar que haja um caminho de salvação para as crianças mortas sem Batismo. Eis por que é tão premente o apelo da Igreja de não impedir as crianças de virem a Cristo pelo dom do santo Batismo.