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* O PECADO TORNOU A NATUREZA HUMANA TOTALMENTE DEPRAVADA? 

R: No passado, certos grupos, distantes da fé da Igreja, defenderam a teoria da ‘depravação total” pela qual o ser humano pecador NÃO trazia em si qualquer bem. Mas ao descobrirem o engano, retrocederam dessa ideia. Por causa da lei natural1nem mesmo após o pecado a vontade humana se depravou por completa. Prova disso é o AMOR PRÓPRIO mesmo no pior indivíduo.2 Ora, o amor pela perpetuação da vida é um bem natural nos seres racionais e irracionais; nos santos e pecadores; nos anjos e seres humanos. Por sua graça comum, Deus nos preservou, naturalmente, no desejo da felicidade e do viver. Isso o pecado não conseguiu apagar. Só naquilo que transcende a natureza humana é que precisamos da ação Divina extraordinária, como a salvação, que está fora da ordem natural. Num indivíduo totalmente mau, a maldade sempre lhe convém e apraz, seja contra os outros ou contra si mesmo. Fossemos completamente maus, jamais poderíamos querer o que não fosse o mal total e absoluto, inclusive contra nós mesmos. Todavia, o mal absoluto se destrói. Tudo que Deus criou é, e continua sendo bom em sua essência, que embora desordenada pelo pecado, não perdeu a luz natural que vem de Deus: “POIS TODA CRIAÇÃO DE DEUS É BOA, E NADA QUE SEJA RECEBIDO COM AÇÃO DE GRAÇA DEVE SER REJEITADO” (1 Timóteo 4,4) “ALEGRA-SE O SENHOR EM SUAS OBRAS.” (Salmo 104, 31) Nunca houve alguém que por mais perverso não desejasse ou procurasse o Bem para si. Nem dos demônios se diz que sua natureza e vontade sejam totalmente corrompidas, porque neles  vida e o desejo de viver. E quando quer a vida e o desejo de viver, eles não estão pecando. O viver e o querer viver são dons de Deus, e, portanto, bens que pertencem a natureza dos seres. Bons ou maus, todos buscamos o Bem, seja de modo errado, quando o buscamos sozinho; ou certo, quando o buscamos em comunhão com Deus: "PORQUE O QUERER O BEM ESTÁ EM MIM;" (Romanos 17, 8) O mal é a busca distorcida pelo Bem. O suicida busca paz e sossego; o idolatra vida eterna e a transcendência com o sagrado; o devasso almeja prazer e deleite; o ladrão busca conforto nas riquezas; o autoflagelado se agride para aliviar a dor no remorso; assim como o homicida pretende reparação daquilo que sofrera, enxergando-se injustiçado. Paz, vida eterna, prazer, conforto, alívio, penitência e reparação são bens legítimos, tornando-se um mal na corrupção dos fins ou meios usados para alcançá-los, quando não os desejamos, nem os procuramos em conformidade com a vontade Divina. Somos propriedades de Deus, e ser propriedade de Deus é um Bem: "PORQUE DELE, E POR ELE SÃO TODAS AS COISAS," (Romanos 11. 36) Na verdade, o que esses grupos, hoje, ensinam sobre a ‘depravação total’, nada mais é do que a antiga Doutrina Católica da Corrupção Humana e a Graça Santificante: “No estado da natureza corrupta, porém, o homem falha, mesmo no que poderia por natureza alcançar, de modo que não lhe é possível fazer, só pelas suas faculdades naturais, todo o bem de que a sua natureza é capaz. Contudo, pelo pecado não ficou a natureza humana totalmente corrupta, de modo a ficar privada de todo bem natural. Por isso, pode o homem, mesmo no estado da natureza corrupta e por virtude da sua natureza, fazer algum bem particular, como, edificar casas, plantas vinhas e coisas semelhantes. Mas não pode fazer todo bem que lhe é conatural, sem falhar em caso algum. Assim como um homem doente pode, por si mesmo, fazer algum movimento, mas, sem ser curado pelo médico, não pode mover-se perfeitamente, como um homem são. Por onde, o homem necessita, no estado da natureza íntegra, do auxílio da graça, acrescentado às suas faculdades naturais, mas só, para fazer e querer o bem sobrenatural. No estado da natureza corrupta, porém, precisa desse auxílio, primeiro, para fortificar-se, e depois para praticar o bem da virtude sobrenatural, que é meritório. Além disso, em um e outro estado, o homem precisa do auxílio divino para mover-se à prática do bem.” (AQUINO. Santo Tomás. Suma Teológica. Q 109 Art. 2º Livro Ia IIea parte, anos 1200 DC) 





1  Incorreram neste erro os calvinistas e arminianos, quando defenderam a 'depravado total do homem'. (CALVINO. As Institutas. Livro 3. Cap. 3, p. 81 e OLSON, Roger E. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades: Editora Reflexão, SP, 2013Nisso se REJEITA o seguinte ERRO: "O homem não regenerado é realmente e totalmente morto em pecados, e privado de toda capacidade do bem, não podendo ter fome e sede de justiça, nem se oferecer a Deus. (Documento das igrejas protestantes calvinistas, Canon de Dort. Refutação 04, anos 1.618)

2 CATECISMO §1956 Presente no coração de cada homem e estabelecida pela razão, a lei natural é universal em seus preceitos, e sua autoridade se estende a todos os homens. Ela exprime a dignidade da pessoa e determina a base de seus direitos e de seus deveres fundamentais. §1958 A lei natural é imutável e permanente, através das varias ações da história; ela subsiste sob o fluxo das ideias e dos costumes e constitui a base para seu progresso. As regras que a exprimem permanecem substancialmente válidas. Mesmo que alguém negue até os seus princípios, não é possível destruí-la nem arrancá-la do coração do homem. Sempre torna a ressurgir na vida dos indivíduos e das sociedades: O roubo é certamente punido por vossa lei, Senhor, e pela lei escrita no coração do homem, que nem mesmo a iniquidade consegue apagar.

 


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